O que é herpes?
O herpes é uma infecção viral causada pelos vírus herpes simples tipo 1 (HSV-1) e herpes simples tipo 2 (HSV-2), ambos pertencentes à família Herpesviridae.
O HSV-1 está mais frequentemente associado a infeções orais (boca, nariz e olhos) enquanto o HSV-2 está mais relacionado a infeções genitais (pênis, vulva, ânus e nádegas).
O HSV-1 também pode provocar infecções genitais por meio de contato oral-genital. Sua transmissão ocorre, na maioria das vezes, pelo contato direto com saliva ou com lesões abertas, sendo considerado altamente contagioso.
Após a primeira infecção, tanto o HSV-1 quanto o HSV-2 permanecem no organismo escondido nos gânglios nervosos, podendo ser reativados em momentos de estresse, baixa imunidade ou outros fatores desencadeantes, causando surtos recorrentes.
Herpes-zóster
O herpes-zóster, popularmente chamado de cobreiro, é causado por outro vírus da mesma família, o vírus varicela-zóster (VVZ), o mesmo que provoca a catapora.
Após a transmissão da catapora, o vírus varicela-zóster pode permanecer adormecido e se reativar anos depois, causando o herpes-zóster.
Já o HSV-2 é transmitido principalmente por relações sexuais desprotegidas com uma pessoa infectada, e isso pode acontecer tanto durante crises visíveis quanto em períodos em que não há lesões aparentes.
A condição é caracterizada por erupções cutâneas dolorosas que se manifesta em apenas um lado do corpo, acompanhando o trajeto de um nervo, chamado dermátomo.
O vírus pode ser transmitido por meio do contato com pessoas que nunca tiveram catapora, levando-as a desenvolver catapora (e não herpes-zóster).

Quão comum é: dados e estigma
O herpes é muito mais frequente do que se imagina. Você sabia que mais de 90% dos adultos brasileiros já tiveram contato com o vírus em algum momento da vida?
No mundo, os números também chamam atenção: cerca de 67% da população mundial com menos de 50 anos tem HSV-1, relacionado ao herpes oral e aproximadamente 13% convive com o HSV-2, associado ao herpes genital.

No caso do herpes-zóster (cobreiro), estima-se que uma em cada três pessoas chegue aos 80 anos com a condição, devido ao enfraquecimento natural do sistema imunológico com a idade e outras condições de saúde.
Outro ponto importante é que nem todo mundo apresenta sintomas. Apenas entre 13% e 37% das pessoas infectadas desenvolvem sinais visíveis da doença, ou seja, a maioria é assintomática.
As recorrências também variam conforme o tipo do vírus: no caso das infecções genitais causadas pelo HSV-1, elas costumam ser raras, aparecendo em apenas 10% a 20% dos casos e, muitas vezes com apenas um único episódio na vida.

Já o HSV-2 tende a ser mais persistente, podendo gerar de 4 a 6 episódios por ano, especialmente no início da infecção, mas a frequência costuma diminuir com o tempo.
Apesar da ser tão comum, o preconceito em torno do herpes ainda é grande, o que dificulta a busca por informação e tratamento. É importante entender que se trata de uma condição viral comum e que pode ser controlada com acompanhamento médico, sem que isso defina a vida ou os relacionamentos de quem convive com o vírus.
Sintomas: como identificar
Os sintomas da infecção por herpes variam de acordo com o tipo do vírus e se é a primeira infecção ou um surto recorrente.
Herpes labial (HSV-1)
- antes do surgimento das feridas, os sintomas costumam ser coceira, formigamento ou queimação nos lábios ou ao redor da boca.
- após os primeiros sinais, aparece pequenas bolhas cheias de líquido ou feridas dolorosas, que podem surgir nos lábios, gengiva, nariz ou queixo.
- as bolhas se rompem, formam crostas e cicatrizam em dez dias.
- a primeira infecção pode ser mais intensa, às vezes com febre, dor de garganta e dificuldade para se alimentar, especialmente em crianças.
- já as recorrências costumam ser mais leves e desencadeadas por estresse, baixa imunidade, exposição solar ou febre.

Herpes genital (HSV-2)
- antes das lesões aparecerem, os primeiros sinais costumam ser coceira, ardência ou dor nos órgãos genitais.
- pequenas bolhas ou feridas dolorosas, que podem evoluir para úlceras na vulva, pênis, ânus, nádegas ou coxas.
- na primeira infecção, as lesões podem durar 2 a 3 semanas; nos surtos recorrentes, tendem a ser mais leves e curtos.
- dor ou ardência ao urinar, ínguas na virilha, corrimento (nas mulheres ou homens), febre, fadiga e mal-estar semelhante ao de uma gripe.

Atenção: em pessoas com o sistema imunológico comprometido (como quem vive com HIV, faz tratamento contra câncer ou tem doenças autoimunes), os sintomas podem ser mais graves e exigir acompanhamento médico imediato.
Como se transmite e quando há risco
O herpes simples é transmitido principalmente pelo contato direto com a pele ou mucosas. No caso do HSV-1, a forma mais comum de contágio ocorre pelo contato com a secreção oral de uma pessoa infectada, seja por beijo, contato pele a pele ou até pelo compartilhamento de objetos pessoais, como toalhas, batons, copos e talheres.
Já o HSV-2 é considerado uma infecção sexualmente transmissível (IST), pois se espalha durante relações sexuais desprotegidas, por contato direto com feridas ou secreções presentes nos órgãos genitais, região do períneo ou glúteos.
O maior risco de transmissão acontece quando há feridas ativas e visíveis. Ainda assim, mesmo sem sintomas aparentes, pode ocorrer a chamada eliminação viral assintomática, ou seja, o vírus pode ser transmitido sem que a pessoa saiba.
Outro ponto importante é que pessoas que já tiveram contato com o HSV-1 não correm risco de se reinfectar com o mesmo tipo, mas ainda podem adquirir o HSV-2.
Além disso, tanto o HSV-1 quanto o HSV-2 podem ser transmitidos da mãe para o bebê durante o parto, levando ao chamado herpes neonatal, uma condição rara, mas que pode causar complicações graves ao recém-nascido.
Embora essas informações possam soar preocupantes, é fundamental lembrar que existem formas eficazes de reduzir o risco de transmissão, como o uso de preservativos, cuidados com a saúde da pele, acompanhamento médico e medidas preventivas durante a gestação.

Tratamento e cuidados diários
O herpes não tem cura definitiva, já que o vírus permanece no organismo mesmo após o desaparecimento das lesões. No entanto, é possível controlar os sintomas, reduzir a frequência das recorrências e diminuir o risco de transmissão para outras pessoas.
O tratamento geralmente combina medidas medicamentosas e cuidados diários:
- Medicamentos antivirais (como aciclovir, valaciclovir e fanciclovir) podem ser usados em comprimidos, pomadas ou cremes, de acordo com a orientação médica. Os medicamentos tópicos ou orais não eliminam o vírus, mas ajudam a acelerar a cicatrização, reduzir a gravidade dos sintomas e, em alguns casos, prevenir recorrências quando utilizados de forma contínua (terapia supressiva).
- Medicamentos para alívio da dor e desconforto, como analgésicos (paracetamol, ibuprofeno, naproxeno) ou pomadas anestésicas (lidocaína, benzocaína), podem ser recomendados para tornar os episódios menos incômodos.
- O tratamento é mais eficaz quando iniciado logo nos primeiros sinais da crise, preferencialmente até 48 horas após o aparecimento dos sintomas.
- Em casos de surtos muito frequentes ou dolorosos, o médico pode indicar o uso diário de doses baixas de antivirais como forma preventiva.

Além dos remédios, alguns cuidados diários simples fazem diferença, como:
- manter a área afetada sempre limpa e seca;
- evitar coçar, esfregar ou tocar nas lesões (para não espalhar o vírus);
- não compartilhar objetos de uso pessoal, como toalhas, copos ou talheres, durante os episódios.
Essas medidas ajudam a controlar o herpes e a tornar a convivência com o vírus mais tranquila. Mesmo sem cura, com acompanhamento médico adequado, é possível reduzir bastante o impacto da doença no dia a dia.
Prevenção e vida com herpes
Conviver com o herpes exige atenção especial à prevenção, tanto para evitar novos surtos quanto para reduzir o risco de transmissão a outras pessoas.
O vírus é mais contagioso quando as lesões estão ativas, mas também pode ser transmitido mesmo na ausência de sintomas visíveis.
No dia a dia, alguns cuidados são fundamentais:
- Evitar contato direto com feridas ativas, como beijar pessoas com lesões visíveis ou compartilhar objetos que possam ter contato com saliva (talheres, copos, batons ou maquiagem).
- Manter o sistema imunológico fortalecido por meio de uma alimentação equilibrada, prática regular de exercícios físicos e redução do estresse, já que fatores emocionais e físicos podem favorecer a reativação do vírus.
- Reduzir o estresse com técnicas como meditação, respiração ou atividades relaxantes também ajuda a diminuir a frequência das crises.

Quando se trata do herpes genital, as medidas de prevenção se assemelham às de outras Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs):
- Uso correto e consistente de preservativos durante as relações sexuais, lembrando que eles reduzem, mas não eliminam totalmente o risco, já que o vírus pode estar em áreas não cobertas pela camisinha.
- Evitar relações sexuais durante as crises, quando há lesões aparentes, pois é o momento de maior risco de transmissão.
- Ter um diálogo aberto com o parceiro sobre histórico de infecção e status sorológico, para que juntos possam decidir a melhor forma de proteção.
- A circuncisão masculina pode oferecer proteção parcial contra HSV-2, além de reduzir riscos de outras infecções, como HIV e HPV.
Alguns pontos merecem destaque em situações específicas:
- Pessoas com sintomas de herpes oral devem evitar contato oral íntimo (como sexo oral) até a completa cicatrização das lesões.
- Pessoas com sinais de herpes genital devem buscar avaliação médica e realizar também o teste para HIV, já que a infecção pelo HSV-2 aumenta em cerca de três vezes o risco de adquirir HIV.
- Mulheres grávidas com sintomas de herpes genital devem avisar imediatamente o profissional de saúde, já que a infecção próxima ao parto pode causar herpes neonatal.

Adotar essas medidas ajuda a diminuir o impacto da doença no cotidiano, tornando possível levar uma vida saudável e equilibrada, mesmo convivendo com o vírus.
O que dizem os especialistas
Diversos especialistas em saúde pública e instituições de referência têm trazido descobertas importantes sobre o tratamento do herpes. Confira os principais destaques:
Terapia supressiva reduz recorrências e transmissão
Segundo o CDC (Centers for Disease Control and Prevention), em pacientes com crises frequentes de HSV-2, o uso contínuo de antivirais, conhecido como terapia supressiva, pode reduzir em até 80% a frequência das recorrências, além de reduzir o risco de transmissão do vírus para parceiros sexuais.
Terapia genética pode eliminar até 90% da infecção
Pesquisadores do Fred Hutch Cancer Center avançaram em estudos pré-clínicos com uma terapia genética experimental que conseguiu remover 90% ou mais da infecção pelo herpes genital e oral. Os virologista esperam poder testar essa abordagem em humanos após a conclusão de seus estudos pré-clínicos.
Vacina de RNA mensageiro em desenvolvimento
Estudos liderados pelo Centro de Pesquisa em Virologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP/USP) estão testando uma vacina de RNA mensageiro contra o herpes-zóster. Segundo o biólogo e pesquisador Danillo Espósito, o imunizante atua fortalecendo os linfócitos T, células de defesa responsáveis por conter a reativação do vírus.
Vacina contra herpes-zóster pode reduzir o risco de infarto e AVC
Um dado recente, apresentado no Congresso da Sociedade Europeia de Cardiologia de 2025, em Madri, revelou benefícios adicionais da vacinação contra o herpes-zóster. Segundo a primeira revisão sistemática global sobre o tema, a imunização está associada a uma redução de até 18% no risco de infarto e acidente vascular cerebral (AVC) em adultos a partir dos 18 anos, e de 16% em pessoas com mais de 50 anos.
As pesquisas reforçam que a vacinação não apenas previne a infecção, mas também pode contribuir para a proteção da saúde cardiovascular, que hoje é um dos maiores desafios de saúde pública mundial.
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Andrezza Silvano Barreto Enfermeira formada pela UFC | Pós-Graduanda de Estomaterapia pela UECE | Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Cuidados Clínicos pela UECE | Consultora Especialista de Produtos da Vuelo Pharma | Consultora de produtos Kalmed Hospitalar desde 2021 | Enfermeira da Equipe de Estomaterapia do Hospital Geral César Cals | Colabora externa da Liga Acadêmica de Enfermagem em Estomaterapia (UFC) desde 2020 com atuação no ambulatório de feridas e incontinência urinária | Preceptora da Pós-graduação em Estomaterapia – UFC no ambulatório de incontinência urinária