O que é e por que o intestino grosso importa
O intestino grosso é uma das últimas etapas do processo digestivo e tem a função de manter o equilíbrio do nosso corpo, finalizando a digestão, reabsorvendo líquidos e abrigando trilhões de micro-organismos que compõem a flora intestinal.
Sua estrutura é formada por quatro partes principais:
- Ceco: início do intestino grosso, onde recebe o conteúdo vindo do intestino delgado.
- Cólon: maior segmento, dividido em cólon ascendente, transverso, descendente e sigmoide.
- Reto: onde as fezes são armazenadas antes da eliminação.
- Ânus: ponto de saída do bolo fecal durante a evacuação.
Apesar de medir cerca de 1,5 metro de comprimento, o intestino grosso não apenas “descarta o que o corpo não usa”, como também cuida ativamente da sua saúde todos os dias.

Funções essenciais para o dia a dia
Absorção de água e eletrólitos: formação do bolo fecal
Depois que os alimentos passam pelo intestino delgado, o que resta chega ao intestino grosso ainda em estado líquido. É aqui que começa uma das etapas mais importantes do processo digestivo: a absorção de água e eletrólitos como sódio, potássio e cloreto.
Durante essa fase, o conteúdo intestinal é transformado em bolo fecal mais sólido, pronto para ser eliminado. A água é absorvida por osmose, enquanto os eletrólitos são transportados ativamente pelas paredes do cólon, contribuindo para o equilíbrio hídrico do corpo e prevenindo quadros de desidratação e diarreia.
O cólon ascendente é o principal responsável pela absorção de água. Já o cólon descendente armazena as fezes até que cheguem ao reto. Quando o volume fecal aumenta, o intestino envia sinais ao cérebropara iniciar a defecação, um processo natural e fundamental para o bem-estar diário.

Flora intestinal ativa: produção de vitaminas (K, B), proteção e fermentação
A flora intestinal, também chamada de microbiota, é formada por trilhões de microrganismos que vivem em simbiose com o corpo humano, exercendo funções vitais para a saúde, como:
- Produção de vitaminas, como K e B (essenciais à coagulação e ao metabolismo).
- Fermentação de fibras e decomposição de compostos alimentares não digeridos, como a celulose.
- Combate a microrganismos patogênicos, reforçando a barreira intestinal e estimulando o sistema imunológico.
- Regulação do pH intestinal e estímulo ao peristaltismo, os movimentos que impulsionam as fezes até o reto.
Ou seja, manter uma flora intestinal equilibrada contribui não só para uma digestão mais eficiente, mas também para a absorção de nutrientes, a saúde mental e o bom funcionamento do corpo como um todo.
Movimento como motor da saúde
O intestino grosso está em constante movimento graças ao peristaltismo, contrações involuntários da musculatura intestinal que empurram o conteúdo em direção ao reto. Também ocorrem as chamadas ondas de massa, que são contrações mais fortes e coordenadas, estimuladas de 2 a 4 vezes ao dia, geralmente após as refeições.
O peristaltismo permite que o corpo tenha tempo para absorver nutrientes e água, ao mesmo tempo em que elimina resíduos e bactérias acumuladas. Se esse processo é muito lento, pode causar constipação. Já quando é rápido demais, pode provocar diarreia e comprometer a absorção de nutrientes.
Ou seja, manter o bom funcionamento do peristaltismo é fundamental não só para o conforto intestinal, mas também para o equilíbrio do sistema digestivo como um todo.

Comunidade interna: o microcosmo dentro de você
A ciência vem demonstrando que existe uma comunicação direta entre o cérebro e o intestino, chamada de eixo intestino-cérebro, que influencia na nossa saúde física, emocional e mental.
No intestino vivem trilhões de microrganismos, entre bactérias, fungos e outros seres microscópicos, que formam a microbiota intestinal, uma comunidade viva que produz substâncias essenciais para o equilíbrio do organismo.
Além disso, estima-se que 90% da serotonina e cerca de 50% da dopamina do corpo sejam produzidos no intestino. Essa conexão acontece por meio de milhões de neurônios e do nervo vago, que envia sinais em duas direções: do intestino para o cérebro, e vice-versa.
Assim, o que você come, sente ou vive pode impactar diretamente no funcionamento da sua digestão e na sua saúde mental. Um desequilíbrio na microbiota, conhecido como disbiose, pode estar relacionado a sintomas como ansiedade, depressão e alterações de humor.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), quase um bilhão de pessoas são afetadas diretamente por transtornos mentais, sendo a depressão e a ansiedade os mais comuns.
Entre os fatores que contribuem para este desequilíbrio estão: o estresse, a alimentação pobre em fibras, o uso excessivo de antibióticos, sedentarismo e até mesmo a genética.
Para corrigir esses desequilíbrios, a alimentação adequada e hábitos de vida saudáveis são pilares importantes para manter essa comunicação corpo-mente em harmonia.
Problemas que afetam seu funcionamento
Quando o intestino está em desiquilíbrio, o organismo pode manifestar diversos sinais de alerta, tais como:
- Diarreia: ocorre quando há pouca absorção de água, resultando em fezes liquidas e frequentes.
- Constipação (prisão de ventre): acontece quando o intestino absorve água em excesso ou o trânsito intestinal está mais lento, dificultando a evacuação.
- Cólicas frequentes: dores abdominais que podem indicar irritações ou inflamações intestinais.
- Intolerâncias alimentares: como à lactose ou glúten, podem causar inflamação e desconforto intestinal.
- Fadiga crônica: o mau funcionamento do intestino pode comprometer a absorção de nutrientes e afetar níveis de energia.
Além dos sintomas, é importante estar atento às doenças intestinais mais comuns:
- Câncer de cólon
- Apendicite
- Colite (inflamação do cólon)
- Diverticulite (inflamação de pequenas bolsas na parede do intestino)
Observar os sinais do corpo e manter a regularidade intestinal são passos importantes para prevenir complicações e preservar a saúde digestiva.

Cuidados diários para manter o intestino feliz
Cuidar da alimentação é um dos primeiros passos para manter o intestino funcionando bem. Ao montar seu prato, prefira alimentos ricos em fibras solúveis e insolúveis, fontes naturais de probióticos e prebióticos, antioxidantes e itens com ação anti-inflamatória.
Mas não é só o que você come que importa, o cuidado com a mente também é essencial. O eixo intestino-cérebro equilibrado depende de um bom gerenciamento do estresse. Se perceber que a ansiedade ou a sobrecarga emocional estão afetando sua rotina, é fundamental buscar ajuda profissional.
Outros hábitos importantes envolvem a prática de exercícios físicos regularmente, pois o movimento ajuda no estímulo do peristaltismo (os movimentos naturais do intestino). Além disso, dormir ao menos 8 horas de sono por noite, já que o intestino também se recupera enquanto você descansa.
Para quem enfrenta sintomas gastrointestinais sem causa física aparente, algumas terapias complementares como terapias de relaxamento muscular, terapia cognitivo-comportamental e biofeedback, podem ser aliadas ao tratamento convencional.
Por último, mas não menos importante, sempre busque orientação médica caso perceba algo fora do comum em sua saúde intestinal ou emocional.

Perguntas frequentes
1. Como funciona a defecação?
O processo de defecação envolve uma série de estímulos e movimentos coordenados entre o cólon, o reto e o sistema nervoso. Quando o reto se enche, receptores sensoriais enviam sinais ao cérebro indicando que é hora de evacuar. A partir disso, ocorre a coordenação entre os músculos do assoalho pélvico e os esfíncteres anais, permitindo a eliminação das fezes de forma voluntária.
2. O que é o sistema nervoso entérico (o “segundo cérebro”)?
O sistema nervoso entérico, conhecido como “segundo cérebro”, é uma rede com mais de 100 milhões de neurônios no trato gastrointestinal, que atua de forma independente para regular os movimentos intestinais, secreções e fluxo sanguíneo. Além disso, se comunica com o sistema nervoso central, influenciando diretamente nas emoções, humor e até comportamentos alimentares.
Conectando corpo e mente: o que o intestino tem a ver com isso?
O sistema nervoso entérico controla funções como digestão, absorção de nutrientes e movimentos do intestino, podendo fazer tudo isso sozinho, sem precisar da ajuda do cérebro.
Mas quando há necessidade, a comunicação acontece por meio do nervo vago, que transmite informações sensoriais em dois sentidos: do intestino para o cérebro e do cérebro para o intestino.
É por esse caminho que são trocadas informações sobre sensações, emoções, fome, saciedade e até a aquela sensação de prazer ao comer um alimento específico.

Quer um exemplo surpreendente dessa conexão? Cerca de 90% da serotonina (conhecida como hormônio da felicidade) e 50% da dopamina são produzidos no intestino, o que reforça a ideia de que ele funciona como um “segundo cérebro”.
Esses neurotransmissores influenciam diretamente o humor, o sono e o bem-estar. Ou seja, o que acontece no intestino impacta de verdade como a gente se sente.
Além disso, o intestino também responde às nossas emoções. Situações de estresse, ansiedade ou medo podem gerar sintomas como “frio na barriga” ou alteração no funcionamento do estômago e intestino, tudo porque esse sistema é altamente sensível ao que sentimos.
Ainda há muito a ser descoberto sobre essa conexão, mas uma coisa é certa: a saúde mental e emocional também começa no intestino.
Andrezza Silvano Barreto Enfermeira formada pela UFC | Pós-Graduanda de Estomaterapia pela UECE | Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Cuidados Clínicos pela UECE | Consultora Especialista de Produtos da Vuelo Pharma | Consultora de produtos Kalmed Hospitalar desde 2021 | Enfermeira da Equipe de Estomaterapia do Hospital Geral César Cals | Colabora externa da Liga Acadêmica de Enfermagem em Estomaterapia (UFC) desde 2020 com atuação no ambulatório de feridas e incontinência urinária | Preceptora da Pós-graduação em Estomaterapia – UFC no ambulatório de incontinência urinária