O que é um esfíncter?
O esfíncter é um músculo em forma de anel que tem a função de abrir (relaxar) e fechar (contrair) passagens do corpo, controlando o fluxo de substâncias como alimentos, líquidos, urina e fezes.
Os músculos também regulam a passagem entre diferentes órgãos, ajudando a manter o funcionamento adequado de sistemas como o digestivo, o urinário e o reprodutor.
O corpo humano possui 43 esfíncteres, alguns são involuntários, como o esfíncter interno do ânus e o da bexiga, que funcionam automaticamente, conforme a necessidade do organismo.
Outros são voluntários, como o esfíncter anal externo e o urinário externo, que podem ser controlados conscientemente, permitindo escolher o momento certo para evacuar ou urinar.
Porém, quando há enfraquecimento desses músculos, pode ocorrer incontinência urinária ou anal, caracterizada pela perda involuntária de urina, flatos ou fezes. Por isso, o bom funcionamento dos esfíncteres é importante para manter o controle das eliminações e a qualidade de vida.
Tipos de esfíncteres e suas funções
A seguir, conheça os principais tipos de esfíncteres e suas funções no corpo humano:
1 – Esfíncteres do sistema digestivo
Os esfíncteres do sistema digestivo são responsáveis por controlar a passagem dos alimentos e resíduos ao longo do trato digestivo, garantindo que cada etapa da digestão aconteça no momento certo.
- Esfíncter esofágico superior (EES): localizado entre a faringe e o esôfago, abre durante a deglutição para permitir a passagem do alimento.
- Esfíncter esofágico inferior (ou cardíaco): impede o refluxo do conteúdo ácido do estômago para o esôfago.
- Esfíncter pilórico: regula a saída do alimento parcialmente digerido do estômago para o intestino delgado.
- Esfíncter de Oddi: controla a liberação da bile e das enzimas pancreáticas para o duodeno.
- Esfíncter ileocecal: separa o intestino delgado do intestino grosso, controlando a passagem dos resíduos.
- Esfíncteres anais (interno e externo): regulam a eliminação das fezes. O interno é involuntário, enquanto o externo é controlado conscientemente.
2 – Esfíncteres do trato urinário
Os esfíncteres do trato urinário são músculos que controlam a liberação da urina e mantêm a continência.
- Esfíncter uretral interno: involuntário, funciona junto à bexiga para reter a urina até o momento da micção.
- Esfíncter uretral externo: voluntário, localizado no assoalho pélvico, permite segurar a urina até o momento apropriado.
3 – Esfíncteres oculares
Os esfíncteres oculares regulam a entrada de luz nos olhos e o foco da visão.
- Esfíncter pupilar: contrai-se em ambientes claros para reduzir o tamanho da pupila e controlar a luz que entra.
- Esfíncter ciliar: ajusta o formato da lente ocular, permitindo o foco da visão para objetos próximos e distantes.
4 – Esfíncteres vasculares
- Esfíncteres pré-capilares: são minúsculos e extremamente numerosos. Eles controlam o fluxo sanguíneo que chega aos capilares, ajudando a regular a pressão e a distribuição do sangue nos tecidos.
5. Outros esfíncteres funcionais
- Músculo orbicular dos olhos: funciona como um esfíncter que permite abrir e fechar as pálpebras, tanto de forma voluntária quanto reflexa.
- Esfíncter vesical: participa do controle da urina na bexiga, trabalhando em conjunto com o esfíncter uretral.
Distúrbios relacionados aos esfíncteres
Quando os esfíncteres perdem a capacidade de contrair ou relaxar adequadamente, podem surgir diversos distúrbios que afetam o funcionamento do sistema digestivo, urinário, ocular e circulatório.
A seguir, veja os principais distúrbios relacionados à disfunção dos esfíncteres:
- Doença do refluxo gastroesofágico (DRGE): ocorre quando o esfíncter esofágico inferior não fecha corretamente, permitindo que o ácido do estômago volte para o esôfago. Isso causa sintomas como azia, dor no peito e queimação, especialmente após as refeições ou ao deitar-se.
- Disfagia: a dificuldade para engolir alimentos pode estar associada à disfunção do esfíncter esofágico superior, que não relaxa de forma adequada durante a deglutição. O problema pode causar sensação de alimento preso na garganta e até engasgos frequentes.
- Refluxo biliar: acontece quando a bile retorna do intestino delgado para o estômago por falha do esfíncter pilórico. Os sintomas se assemelham ao refluxo ácido, mas podem incluir náuseas, dor abdominal e gosto amargo na boca.
- Disfunção do esfíncter de Oddi: essa condição afeta o esfíncter que controla a liberação da bile e do suco pancreático no intestino. Quando o músculo não relaxa corretamente, há acúmulo de secreções, provocando dores intensas na região superior do abdômen, que podem irradiar para o tórax.
- Incontinência anal: decorre da fraqueza ou lesão dos esfíncteres anais, responsáveis por controlar a saída das fezes. Pode causar vazamentos involuntários e está frequentemente associada a partos, cirurgias anorretais ou envelhecimento.
- Incontinência urinária: quando o esfíncter uretral perde a força, ocorre vazamento involuntário de urina, especialmente ao tossir, espirrar ou realizar esforços físicos. Esse distúrbio é mais comum em mulheres após o parto ou na menopausa, mas também pode afetar homens após cirurgias prostáticas.
- Distúrbios oculares (miose e midríase):a miose ocorre quando o esfíncter da íris se contrai de forma anormal, resultando em pupilas excessivamente pequenas e visão turva. Já a midríase acontece quando o músculo deixa de responder adequadamente, fazendo com que a pupila permaneça dilatada, causando sensibilidade à luz e dores de cabeça.
- Edema: quando os esfíncteres pré-capilares, responsáveis por regular o fluxo sanguíneo nos capilares, não funcionam bem, pode ocorrer acúmulo de líquidos em tecidos do corpo. Isso leva a inchaços (edema) nas pernas, pulmões ou até no cérebro, dependendo da região afetada.
- Blefaroespasmo: está associado à disfunção do músculo orbicular dos olhos, que age como um esfíncter das pálpebras. O problema causa contrações involuntárias e fechamento excessivo dos olhos, podendo interferir na visão e no conforto ocular.
Sintomascomo refluxo frequente, dificuldade para engolir, escapes de urina ou fezes e dores abdominais persistentes devem ser avaliados por um médico especialista, para diagnosticar e orientar o tratamento mais adequado.
Avaliação e tratamento de disfunções esfincterianas
A avaliação das disfunções esfincterianas tem como objetivo identificar se há perda de força, coordenação ou controle nos músculos responsáveis por abrir e fechar as passagens do corpo.
Após analisar os sintomas, o gastroenterologista, urologista ou proctologista, pode solicitar exames clínicos e funcionais, como:
- Manometria, que mede a força e a pressão de contração dos esfíncteres, como o anal ou o esofágico.
- Eletromiografia, que avalia a atividade elétrica dos músculos, identificando falhas de coordenação ou fraqueza.
- Ultrassonografia endoanal ou endorretal, usada para visualizar lesões estruturais nos esfíncteres anais.
- Endoscopia digestiva, que permite observar o funcionamento dos esfíncteres do trato gastrointestinal, como o esofágico e o pilórico.
- Urodinâmica, que analisa o funcionamento da bexiga e do esfíncter urinário durante o enchimento e o esvaziamento.
Esses exames ajudam o médico a determinar se a disfunção tem origem muscular, neurológica ou estrutural, orientando o plano de tratamento mais adequado.
O tratamento das disfunções esfincterianas depende da causa, do tipo de esfíncter afetado e da gravidade do quadro. As abordagens podem incluir medidas conservadoras, fisioterapêuticas, medicamentosas ou cirúrgicas.
As medidas preventivas e conservadoras incluem:
- Reeducação intestinal e urinária: manter horários regulares para evacuar e urinar ajuda a preservar o controle esfincteriano.
- Alimentação equilibrada: incluir fibras e ingerir bastante água melhora o trânsito intestinal e previne o esforço excessivo.
- Evitar esforços repetitivos: levantar peso ou prender a respiração com frequência pode enfraquecer a musculatura pélvica.
- Prática de exercícios de fortalecimento para o assoalho pélvico: como fortalecimento ou ciensioterapia, que fortalece os esfíncteres urinário e anal.
- Controle do peso corporal: o excesso de peso aumenta a pressão sobre a pelve e favorece disfunções.
Indicada especialmente para casos leves e moderados de incontinência urinária ou fecal, a fisioterapia utiliza exercícios de fortalecimento, biofeedback e eletroestimulação para restaurar o controle muscular e melhorar a coordenação dos esfíncteres.
Já o uso de relaxantes musculares, antiespasmódicos, agentes antirrefluxo ou medicamentos que aumentam o tônus muscular pode ser indicado para regular a contração esfincteriana e reduzir sintomas como dor ou refluxo.
Quando as abordagens conservadoras não são suficientes, pode ser necessária intervenção cirúrgica para reparar ou substituir a função do esfíncter, como esfincteroplastia anal, implante de esfíncter urinário artificial e cirurgia antirrefluxo.
Com o diagnóstico correto, hábitos saudáveis e acompanhamento médico contínuo, é possível recuperar o equilíbrio muscular, prevenir complicações e manter a qualidade de vida.
Gostou deste conteúdo? Então descubra como os músculos do assoalho pélvico influenciam no controle dos esfíncteres e na prevenção de disfunções como incontinência urinária e fecal.
Andrezza Silvano Barreto Enfermeira formada pela UFC | Pós-Graduanda de Estomaterapia pela UECE | Mestre pelo Programa de Pós-graduação em Cuidados Clínicos pela UECE | Consultora Especialista de Produtos da Vuelo Pharma | Consultora de produtos Kalmed Hospitalar desde 2021 | Enfermeira da Equipe de Estomaterapia do Hospital Geral César Cals | Colabora externa da Liga Acadêmica de Enfermagem em Estomaterapia (UFC) desde 2020 com atuação no ambulatório de feridas e incontinência urinária | Preceptora da Pós-graduação em Estomaterapia – UFC no ambulatório de incontinência urinária



